A mitologia grega conta a história de Eco, a jovem que encobria os erros conjugais de Zeus. Em suas fugas do Olimpo, Zeus contava com a ajuda de Eco para ludibriar sua mulher, Hera. Descoberta a farsa, Hera, não podendo se vingar de Zeus, lançou sobre Eco uma maldição, retirando seu poder de fala espontânea. Eco passou a repetir o que ouvia, o que era dito pelos outros; refugiou-se em um bosque, onde estava Narciso, também vítima de uma maldição. Depois de uma tentativa frustrada de se aproximar de Narciso, por quem se apaixonara e por quem fora rejeitada em razão de sua ausência de espontaneidade, entristecida, definhou, deixando apenas sua voz próxima aos lagos.
Nos anos 1900, Gabriel Tarde, “pai da microssociologia”, já apontava o fenômeno da imitação como fonte essencial da opinião. Para Tarde, a conversação e a imitação são os propulsores da formação da opinião geral. Nunca se conversou tanto como após o advento das redes sociais. Nunca se imitou tanto, nunca se compartilharam tanto as ideias dos outros… nunca se observaram tantas vítimas da síndrome de Eco.
Vivemos dias em que a política apresenta fortes argumentos para dissuadir a participação popular nos processos democráticos, mas isso não deveria representar a percepção de que tudo na política está ruim. Afinal, muitos personagens da vida política não sujaram as mãos e merecem respeito. Mas o forte conteúdo negativo (merecidamente) estimula a reprodução de críticas e o desinteresse em buscar informações para formar opinião mais abrangente sobre a cena política brasileira.
Diante de tantos vitimados, até a grande imprensa, para buscar apoio e audiência, reproduz a cadência das redes sociais… embora não vitimada, reproduz os “sintomas” da síndrome como pressuposto retórico de aproximação com os públicos pela exposição de “ideia comuns”. E, nas características que esboçam nossa esfera pública, apresentam-se erros falsos de políticos que têm erros verdadeiros – ora, no desmentido dos erros falsos, colocam-se em dúvida as culpas verdadeiras. Até internautas bem informados não resistem ao se deparar com informações duvidosas sobre políticos com os quais não tenham afinidade – são acometidos pela síndrome, contraída por rancores.
O prejuízo é grande para democracia brasileira. Os políticos têm um problema de origem. Honestos ou desonestos, competentes ou incompetentes, mãos limpas ou mãos sujas… não importa, a desconfiança paira sobre todos eles, o que é péssimo para a nossa democracia. Há de se inventar uma vacina para a síndrome de Eco!