Ao chegar a uma de suas lojas na Zona Sul do Rio de Janeiro, o empresário sentiu profundo incômodo com o movimento: a loja estava apinhada de pessoas que não pertenciam ao seu “target planejado”. Aproximou-se do gerente e indagou o que faziam aquelas pessoas ali. “Eles são consumidores do produto X” – respondeu o gerente. O empresário, de forma açodada, reuniu seus executivos e determinou que os produtos X – itens da sua marca que, àquela época eram usados pela elite carioca e desejados, como signo de status, pelo público de baixa renda das comunidades situadas na Zona Sul do Rio – fossem retirados das lojas da grife e passassem a ser comercializados em lojas multimarcas parceiras da periferia. Não queria que “aquelas pessoas” espantassem os clientes que mais importavam para ele.
Anos mais tarde, o empresário, por razões de mercado, entendeu que deveria voltar a comercializar o produto X na Zona Sul. A pesquisa qualitativa, contudo, retratou um grande problema: o consumidor da Zona Sul não queria mais o produto X. A elite passara a usar outra marca e, consequentemente, o produto X, já popular na Zona Norte, não representava ali status algum. Entre os consumidores da periferia, no entanto, o produto X já se havia consolidado como artigo de desejo… O empresário percebeu que, embora proprietário da marca, não era dele o domínio sobre a simbologia de seu produto. Não tinha mais o domínio da marca do produto X para fazer o que bem entendesse com bons resultados. E percebeu que, felizmente, a marca estava em boas mãos, nas mãos do público que a adotara.