Dois senhores entram no ônibus, em pontos diferentes. O coletivo está apinhado de passageiros. Simulando desconhecer um ao outro, um deles inicia um diálogo sobre política. Em determinado ponto da conversa, um dos senhores cita o nome de um político. E começam uma elaborada narrativa de desconstrução da imagem do político citado. Outros passageiros, atentos ao debate, também interagem entre si. O coletivo é tomado pelo debate… com fartas críticas ao político em questão. Um dos senhores desce…. alguns pontos depois, é a vez do segundo senhor. É hora de embarcar no segundo coletivo, de muitos durante o dia. É o teatro invisível, financiado por um grupo político para desconstruir o adversário. Estratégia comum em campanhas eleitorais, esse mecanismo chegou às redes sociais… e isso não ocorreu à toa.
Herbert Blumer, membro da Escola Sociológica de Chicago, em artigo de 1937 intitulado Man and Society (Homem e sociedade), edificou o conceito de interacionismo simbólico com três premissas: (1) a interpretação que o indivíduo tem dos fatos e os significados apreendidos, (2) a interação social e o papel do outro na consolidação dos significados e (3) a reflexão sobre as interpretações para formação da opinião.
Interessante estudo da FGV/DAPP mergulha no tema dos robôs que simulam interações nas redes sociais no debate político. Essa manobra desprezível, muitas vezes com participação de cientistas sociais – o que é lamentável-, manipula a interpretação de muitos cidadãos sobre fatos políticos. A serviço de interesses variados, a manipulação das interações é um risco para a participação política legítima.
Sempre que observarmos debates acalorados nas redes sociais, desconfiaremos ao lembrar dos dois senhores no ônibus cheio…