Em nossa abordagem de reflexão e investigação para planejamento de campanhas eleitorais, defendemos a premissa de que o eleitor organiza as suas percepções sobre candidaturas em cinco dimensões: 1) competência para exercício da função pretendida; 2) competência para lidar no meio político; 3) reputação pessoal; 4) sentimentos despertados; e 5) chances de vitória. A consolidação da reputação do candidato na percepção do eleitor se fundamenta nesses pilares. A ideia aqui não é apresentar resultado de pesquisa, nem tampouco fazer previsões sobre o dia da votação, mas trazer reflexões sobre hipóteses que deveriam ser testadas pelos responsáveis pela comunicação política das candidaturas.
Na primeira avaliação (será uma por semana, sempre às sextas), propomos a reflexão sobre duas candidaturas: Geraldo Alckmin e Joaquim Barbosa.
Alckmin apresenta performance identitária mais acentuada para as duas primeiras dimensões, de natureza funcional – competências para o exercício da gestão pública e competência política. Isso se dá pela larga experiência no exercício do cargo de governador de São Paulo. Pode, no entanto, despertar sentimentos negativos e ter a reputação pessoal rejeitada com base, sobretudo, nos noticiários correntes, segundo os quais Geraldo Alkimin poderia estar envolvido em casos de corrupção. O fato de apresentar performance sofrível nos indicadores de voto em seu estado, conforme pesquisas publicadas, pode impactar no sentimento de vitória, que corresponde à projeção que os eleitores fazem sobre as chances de o candidato vencer.
Barbosa é um símbolo, alimenta no imaginário de parcela expressiva dos eleitores o ideário de reputação ilibada. E pode despertar sentimentos relacionados à justiça, à superação -negro de família pobre, superou muitos desafios e alcançou notoriedade. Serão, contudo, cobrados do candidato os atributos funcionais. A ausência de histórico relevante em gestão pública será um dos principais, uma vez que, no fim das contas, o eleitor quer quem faça por ele. Outra questão que possivelmente tenha de ser argumentada é a competência para lidar no meio político. Barbosa foi marcado pelos embates com colegas no STF. Esse estilo pode representar, na interpretação do eleitor, falta de traquejo para promover o avanço de projetos importantes no parlamento. A percepção de chance de vitória parece ser, neste período, uma vantagem para Barbosa, que surpreendeu nas últimas pesquisas e pode crescer mais nas próximas… Mas alcançará um teto, caso não resolva suas fragilidades nos atributos funcionais.
Barbosa leva vantagem no simbólico. Alckmin, no funcional. Faca artesanal é objeto para a contemplação, exposta na parede, admirada por muitos. Todavia, para quem precisa descascar uma laranja, a saída será uma faquinha arranhada, mas afiada. Barbosa é uma das facas para contemplação. Alckmin, uma das opções na gaveta. Para os dois, a conquista desses atributos ausentes será o caminho para se tornarem mais competitivos na eleição.