Os novos tempos imprimem demandas urgentes. Candidatos e operadores de campanhas querem a última notícia, a última tecnologia. Na busca pela última notícia, necessária em tempos de disrupção, esquecem o básico: entender como o eleitor reage a tudo que o político comunica. Duas promessas de disrupção chamam atenção: a onda do Big Data e os superoperadores de redes sociais.
Não canso de dizer: o Big Data é uma ferramenta importantíssima. Mas, em terras de “small data”, as limitações de bancos de dados confiáveis não preenchem as promessas – nem as expectativas dos clientes – do Big Data. Qual é o conteúdo de muitas promessas de Big Data para os políticos? Encontrar o nicho eleitoral que deseja avidamente aquele candidato; isso sem ao menos uma ida a campo… apenas com dados variados sobre tendências comportamentais (sobretudo as de consumo). Outra promessa: a partir da extração da base de dados do político, entregar tendências mágicas de comunicação para “hipnotizar” os eleitores daquela base.
Os mágicos operadores das redes sociais prometem impactar os internautas com ações comunicativas também hipnotizantes. Tudo isso imanado com o argumento do “conhecimento dos segredos das redes sociais” e da “especialização nas campanhas de Obama, Trump, Macron…”. A promessa é o alcance, aos montes, de amigos dos amigos, o que causou problemas para Zuckerberg nas últimas semanas.
Poderíamos citar muitos outros serviços que, em nome de métodos consagrados, prometem o que não podem entregar… A mágica encanta e vende facilidade; entretanto a complexidade dos processos que envolvem escolhas eleitorais é enorme e exige trabalho e ciência.
Nesse sentido, o que, de fato, não pode ser ignorado por aqueles que querem entender a formação do voto e nela, conscientemente, intervir, é o que denomino de Percurso Gerativo do Voto, com as seguintes etapas: ALCANCE, RELEVÂNCIA, INTERAÇÃO, VOTO.
As promessas de alcance não podem garantir voto. A mensagem de um candidato, caso não seja percebida como relevante pelo eleitor, será descartada. É preciso entender o que é relevante para o processo seletivo feito pelo eleitor na escolha de seu candidato. A partir daí, passando pelo filtro da relevância, o candidato entra no “radar” do eleitor. E processos de interação do eleitor com o candidato e com outros eleitores levam à tomada de decisão: o voto. Aí o candidato diz: “Ah, muito complicado!”. Sim, ele está prestes a contratar uma promessa fácil!
Sem os profissionais certos de pesquisa, assessoria de imprensa, comunicação (online e offline), campanhas podem não ser disruptivas, com o risco de serem dissolvidas no vale das derrotas.